Em expansão, obtenção de crédito ainda é problema para empresário

Especialista diz que dono de pequeno negócio não aprendeu como obter acesso às muitas linhas de financiamento

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Fátima Sandi atua há sete anos em um nicho de mercado na cidade de Caxias (RS). Ela compra e revende acessórios para automóveis customizados, carros equipados por pessoas que buscam performance superior àquela oferecida pelas montadoras. Trata-se de um empreendimento que, na opinião da empresária, é dos mais promissores no País – não faltam clientes e os fornecedores são escassos na região. Tudo certo, não fosse um detalhe: o bolso da dona, que é curto demais para as exigências do setor.

PUBLICIDADE

::: Estadão PME nas redes sociais ::: :: Twitter :: :: Facebook :: :: Google + :: Para crescer nesse ramo, Fátima precisa investir em mercadorias de alto valor agregado. Mas com todo o capital comprometido com obrigações, ela sente-se limitada. “Preciso de dinheiro para mudar de patamar, começar a importar. Mas um financiamento no banco é muito caro. Os juros são altos.”

O dilema da comerciante é bem conhecido do empresariado brasileiro, afinal, Fátima Sandi empreende em um País que, segundo economistas que atuam no mercado financeiro e estudiosos em gestão de pequenas empresas, avança muito lentamente em sua capacidade de atender a demanda dos pequenos e médios no que tange à oferta de capital.

 

“É difícil para o empresário. Não que faltem recursos ao mercado, muito pelo contrário. Há crédito, principalmente subsidiado pelo governo. O problema é que a gente não conseguiu organizar um mercado de capitais. As taxas de juros cobradas e as exigências das instituições privadas são muito altas”, afirma o professor de economia da Fundação Dom Cabral, Rodrigo Zeidan.

O especialista menciona um levantamento realizado no ano passado pela Fundação Dom Cabral e que teve como foco donos de empresas pequenas e médias. Questionados sobre a relevância das fontes de financiamento para subsidiar a expansão de seus negócios, os empresários indicaram como de alta importância – em primeiro lugar – os lucros acumulados e retidos pela própria empresa; em seguida foram mencionadas as linhas de crédito de instituições públicas (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES), opção que aparece na frente do aporte de capital dos próprios sócios (quando os donos tiram dinheiro do bolso). “Os bancos privados só aparecem em quarto lugar. É um forte indicador das dificuldades que o empresário encontra nessa área”, diz Zeidan.

Quem conhece esse problema de perto é Rodrigo Krug, que há dois anos tem uma fábrica de impressoras 3D em Porto Alegre. O estudante de engenharia desenvolveu um protótipo do produto e, para lançar-se ao mercado, precisou recorrer a um investimento de R$ 100 mil. “Fui em todos os lugares e não conseguia um banco que acreditasse no meu projeto. Acabei pegando uma linha com juros de quase 5%. A parcela era em torno de R$ 4 mil, R$ 5 mil. Para uma startup que não tinha nenhum rendimento, era um absurdo”, conta ele, que hoje conta com um fundo de investimento externo como sócio.

“O que acontece é que, muitas vezes, o empresário não sabe onde recorrer”, destaca Daniel Ibri, que gerencia um fundo especializado em aportes em empresas de pequeno porte, o Grid Investments. “Eu acho que o crédito está aumentando nos últimos anos, mas o empresário tem de se preparar para bater na porta certa”, afirma.

Publicidade

A opinião de Ibri traz a história de volta para Fátima Sandi, gaúcha que revende peças para carros. Após patinar, ela descobriu um grupo de empresários locais que se unem para ampliar as garantias de um empreendedor no momento dele tomar empréstimo em bancos privados. “Quando se pesquisa, têm alternativas. Eu já consegui juros pela metade com essa ideia. Tomei R$ 15 mil, depois R$ 30 mil e, agora, quero levantar aproximadamente R$ 50 mil.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.