
25 de maio de 2016 | 07h38
Desde 2010, o Brasil não abria tantas empresas como no primeiro trimestre de 2016. Conforme aponta o Indicador Serasa Experian de Nascimento de Empresas, no período, o País contabilizou 516.201 novos negócios, 7,5% a mais do que no primeiro trimestre de 2015, quando foram registrados 480.364 nascimentos.
A alta é encabeçada pelos registros de microempreendedores individuais, os chamados MEIs, responsáveis por 413.555 novas empresas, ou mais de 80% do total de aberturas. O crescimento é de 14% em relação ao mesmo período de 2015, quando 362.804 novos MEIs surgiram no País.
O programa, implementado por iniciativa do governo federal em 2008 para incentivar a formalização de pequenos empreendedores sem a necessidade de um contador, possibilita que os registrados contribuam com a Previdência, tenham CNPJ e emitam nota fiscal.
A facilidade em obter o registro, porém, somada ao alto índice de desemprego do País, fez com que o empreendedorismo por necessidade, decorrente da impossibilidade da pessoa voltar ao mercado de trabalho, seja o principal fator por trás desse crescimento. Em outras palavras: não há o que comemorar.
Um indicativo que ilustra bem o cenário preocupante é que a maioria dos MEIs iniciou atividades no setor de serviços. São empreendimentos com pouca barreira de entrada e investimento baixo como salões de beleza, venda de cosméticos e reparos e manutenções domésticas, conforme aponta Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. “É um fenômeno claramente predominante.
O desemprego tem crescido de forma muito acelerada e é o que explica a mudança de patamar”, pontua Rabi.
Mas a vontade de empreender, nesses casos, pode não ser suficiente para o interessado se sustentar financeiramente, mesmo tendo o MEI encargo baixo – no máximo R$ 50 mensais. Historicamente alta, a inadimplência da categoria chegou a 60,31% para os microempreendedores paulistas em janeiro, cerca de sete pontos porcentuais acima dos 53,80% registrados no mesmo período do ano passado.
Desempregada desde 2014, Adriana Aparecida Torres Teixeira está entre os empreendedores que não conseguem arcar nem mesmo com o imposto mensal do MEI. O e-commerce de roupas femininas de Adriana deixou de funcionar após alguns meses da criação, quando ela liquidou o estoque por não alcançar o faturamento do qual precisava para manter-se.
“Começou bem, mas logo as clientes começaram a não comprar mais”, conta Adriana. “Com isso, começamos a misturar o dinheiro de casa com o da empresa”, relata. Agora, ela busca regularizar sua situação com a Receita Federal para abrir um salão de beleza, novo negócio sobre o qual vem debruçando-se há seis meses. “É difícil, (empreender) exige muito planejamento. A primeira vez foi muito traumática, pretendo chegar mais preparada para a segunda”, avalia a empreendedora.
Após seis meses desempregado, o adestrador de cães Thiago Capuci, de 23 anos, fez, em uma tentativa de restabelecer sua renda mensal, o cadastro como microempreendedor individual. Após três meses, porém, ele abandonou o pagamento da tarifa mensal. Agora que conseguiu uma nova colocação no mercado de trabalho, quer regularizar a taxa para fechar a empresa. “Até o cliente chegar, o capital de investimento já acabou”, lamenta Capuci.
Previsto. O economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, acredita que o cenário ruim deve se estender enquanto a crise econômica perdurar. “O sujeito está no desespero. Perdeu o emprego, precisa consumir, precisa ter acesso a serviços básicos. Ele tenta de alguma forma recuperar a renda perdida”, diz Bentes. “É uma bolha que estoura rápido. Infelizmente, muitos desses negócios não vão vingar.”
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