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Delivery, crédito, redes sociais: o que movimentou pequenos negócios em 2020

Ano foi marcado por busca de empréstimo no Pronampe, alta do e-commerce e empreendedorismo focado em ‘compre local’; de DNA digital, startups estouram previsões de faturamento

Por Letícia Ginak , Anna Barbosa e Marina Dayrell
Atualização:

Para os donos de pequenos e médios negócios, 2020 foi um ano com dificuldades suficientes para uma década. O isolamento social e o medo do contágio pelo coronavírus modificaram as formas de consumo e de venda.

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Estabelecimentos foram fechados, a receita caiu abruptamente e funcionários perderam seus empregos. Para tentar sobreviver à crise, os empreendedores foram atrás de microcrédito, principalmente do programa de financiamento do governo, o Pronampe, e enfrentaram muitas dificuldades.

Campanhas para o consumo local foram criadas para proteger os pequenos. A digitalização à força, com as vendas pelas redes sociais e nos e-commerces, pareceu ser a saída para muitos. Outros precisaram aprender também a como trabalhar com o delivery. E teve aqueles que, infelizmente, fecharam as portas de forma definitiva. 

Confira o que foi destaque no mundo do empreendedorismo em 2020, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão PME ao longo do ano.

O ano do empreendedorismo

O relatório anual Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), realizado no Brasil com o apoio do Sebrae e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), projetou que 2020 seria o ano em que o Brasil atingiria a sua maior taxa de empreendedores iniciais ou de donos de negócios com até três anos e meio de atividade, com 25% da população adulta nacional empreendendo.

De acordo com o Sebrae, os dados referentes à projeção ainda não estão atualizados, mas as projeções estão se confirmando.

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Também foi o ano dos microempreendedores individuais. Logo no início da pandemia, em abril, o número de MEIs no Brasil ultrapassou a marca dos 10 milhões. Hoje, eles são mais de 11,2 milhões, segundo a Receita Federal. No entanto, a pandemia do coronavírus impactou diretamente os negócios no mundo todo, principalmente os pequenos e médios.

Gilberto Sarfati, professor da FGV EAESP. Foto: Nilton Fukuda/Estadão-22/2/2017

“A massa das pequenas empresas sofreu muito com a pandemia. A restrição do movimento de pessoas afetou fortemente os negócios. A menor disponibilidade de renda do consumidor também afetou a propensão ao consumo. Portanto, para a maior parte das pequenas empresas o ano de 2020 foi muito ruim”, diz Gilberto Sarfati, professor da FGV EAESP. 

A vez das startups

Por outro lado, 2020 foi um ano excepcional para as startups, aponta Sarfati. “Esse tipo de negócio, seja voltado ao consumidor final ou a empresas, por natureza é digital. E o digital foi o grande ganhador do ano. A maior parte das startups não depende diretamente da circulação de pessoas e pode manter a eficiência com funcionários em home office. Ao mesmo tempo, com consumidores e empresas online, houve uma digitalização forçada do consumo que impulsionou esses negócios”, completa.

De acordo com dados da Distrito, empresa que mapeia o setor, entre janeiro e setembro houve 100 aquisições de startups no País, número que superou os anos de 2018 e 2019. Já o volume de aportes em startups até setembro foi de US$ 2,2 bilhões.

A digitalização dos negócios

Para manter o negócio ativo na pandemia, a palavra de ordem foi a da digitalização. Quem já vendia online saiu na frente, mas aqueles que ainda não estavam familiarizados com o e-commerce tiveram que aprender a abrir uma loja virtual, escolher métodos de pagamento online, fazer entregas e usar as redes sociais. 

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Segundo dados da AbComm, entre março e maio, o País abriu mais de uma loja virtual por minuto, ou seja, 107 mil novos estabelecimentos criados na internet para a venda. 

Outra estratégia adotada pelos empreendedores foi a presença nos marketplaces. O Magazine Luiza por exemplo criou, em parceria com o Sebrae, o Parceiro Magalu, para ajudar na digitalização de pequenos negócios. Até o fechamento desta retrospectiva, a plataforma já havia digitalizado mais de 85 mil negócios.

Pagamento digitais: o nascimento do PIX

Além dos meios de pagamento tradicionais, o ano de 2020 trouxe a criação do PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central. Para as pequenas e médias empresas, a modalidade foi benéfica, com redução de custos, menos burocracias nos pagamentos, auxílio no capital de giro e melhoria na gestão de estoque

Para a assessora econômica da Fecomercio-SP Kelly Carvalho, o PIX melhora a gestão do fluxo de caixa das empresas, já que diminui o risco de o empresário ter que recorrer a uma linha de crédito com juros mais altos para pagar os seus compromissos.

Centro de distribuiçãodo Magazine Luiza, empresa que ajudou na digitalização de mais de 85 mil pequenos negócios. Foto: Leandro Fonseca

“Ele também melhora a gestão de estoque do comércio eletrônico. Em uma venda realizada com boleto bancário, alguns consumidores podem desistir da compra, fazendo com que, em momentos de promoções ou datas comemorativas, a mercadoria fique parada em estoque, comprometendo o caixa. Com o PIX, as transações acontecem em tempo real, fazendo com que o e-commerce consiga se preparar melhor, inclusive para otimizar o tempo de entrega.”

O difícil acesso ao crédito e microcrédito 

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Com os estabelecimentos fechados, buscar crédito para manter o negócio vivo foi uma das estratégias adotadas pelos empreendedores. Além dos bancos tradicionais, até as fintechs aumentaram o limite de crédito oferecido. 

No entanto, os relatos de dificuldades para acessar o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), formulado em maio para socorrer pequenos negócios durante a pandemia de covid-19, também marcaram o ano do empreendedor. 

Segundo os empreendedores e o Sebrae, problemas como a burocracia, a falta de garantias, a desorganização e a negativação das empresas foram grandes empecilhos na busca por crédito. Uma pesquisa feita pelo Sebrae apontou que entre março e julho cerca de 54% dos pequenos negócios buscaram crédito, mas apenas 21% conseguiram.

De acordo com o Ministério da Economia, foram liberados R$ 32,7 bilhões até dezembro, para 474 mil empreendedores.

“É preciso que, constantemente, mesmo que a pessoa não tome crédito emprestado toda hora, ela tenha a documentação em dia. Tem que ter o fluxo de caixa organizado, os documentos no prazo de validade certo. Muitos negócios não têm planilha com fluxo de caixa, previsão de inadimplência. Mesmo se a empresa for do SIMPLES, ela precisa de balanço anual”, explica o professor de Finanças do Insper Ricardo Rocha, um dos grandes problemas para o acesso ao crédito por micro e pequenos empreendedores foi a falta de organização dos negócios. 

“Conhecer as linhas de crédito que são direcionadas para o seu negócio também ajuda muito. Tem que ter o banco adequado de acordo com o tamanho do negócio. Não pode misturar o crédito da pessoa física com a jurídica, por exemplo”, aponta.

Compre local 

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As campanhas que incentivam os consumidores a comprar de pequenos empreendedores de seus bairros e cidades surgiram aos montes nos primeiros meses de isolamento social para ajudar na sobrevivência dos negócios. Uma pesquisa produzida pelo Facebook, em parceria com a Deloitte, em setembro, mostrou que 73% dos consumidores brasileiros começaram a comprar de pequenos negócios (do seu ou de outros bairros) desde o início da pandemia.

“Olhando para o que está acontecendo no mundo, o nosso grande desafio é usarmos bem o exército de micro e pequenas empresas e de MEIs. Quando você olha para uma rua de comércio em um município de 20 mil habitantes, você soma os estabelecimentos daquela rua e isso se equivale a uma grande empresa, em números de funcionários e de pessoas que o varejo atinge”, explica o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

“Estamos trabalhando muito com o consumo interno, fazer coisas dentro do município, do bairro, comprar do pequeno, isso funcionou de uma forma muito boa durante a pandemia”. 

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