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De novo as bikes: agora para valer

Amadurecimento de políticas públicas e visão modal da bicicleta impulsionam negócios em São Paulo

Por Letícia Ginak
Atualização:
Bicicletas da Yellow Bike, startup brasileira que aposta no compartilhamento de bikes sem estações fixas para retirada ou devolução. Foto: Werther Santana/Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

“Já viu as bicicletas amarelas? Você usa e depois pode devolver em qualquer lugar.” A resposta: “não vi. Mas que ideia boa. Tomara que vá pra frente.” O diálogo aconteceu dentro de um ônibus, entre o motorista e um passageiro. Os dois estavam se referindo à startup brasileira Yellow, que entrou em operação na capital paulista há menos de um mês. A empresa propõe o compartilhamento de bicicletas com redistribuição livre, sem estações para retirada e devolução. A conversa revela um tom amigável sobre o modal, mostrando uma possível convivência tranquila para as bikes nas grandes cidades.

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Com este cenário, empreendedores voltam a ter confiança para investir no setor. O ponto de partida são os números. A capital paulista tem atualmente cerca de 498 quilômetros de malha cicloviária permanente. Em março deste ano, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transporte anunciou um plano que prevê o aumento para 1.420 quilômetros até 2028. 

Além disso, a ONG Transporte Ativo em parceria com o Laboratório de Mobilidade Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LABMOB-UFRJ) realizou uma pesquisa com 7.644 ciclistas e revelou que a maioria utiliza a bicicleta como meio de transporte de cinco a sete dias por semana.

“A indústria da bicicleta está se reaquecendo. Políticas públicas influenciaram e hoje as pessoas buscam novas alternativas de se locomover. Ela deixa de ser só uma ferramenta de lazer e passa a ser um modal”, afirma o diretor do Festival Bike Brasil, Diego Carvalho. 

Sobre as possibilidades de mercado para os pequenos negócios no setor, Carvalho é otimista. “Há várias oportunidades, o grande diferencial será a inovação aplicada ao produto e a forma de apresentá-lo. Temos um consumidor que cresce cada vez mais, seja para acessórios, serviços ou tecnologia.”

Expansão. O cofundador da Yellow, Ariel Lambrecht, ex-99, revela o plano de preencher a cidade com as amarelas.

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“Vimos que um terço das viagens aqui acontecem a pé. A ideia do serviço é intermodal. Para quem desce na estação de ônibus, em vez de caminhar até em casa ou ao trabalho poder fazer isso de bicicleta. Toda semana colocamos 1.500 novas bicicletas e o plano é chegar a 20 mil em novembro. Até o final de 2019 vamos colocar mais 120 mil, que é o volume que São Paulo precisa. Não quero que as pessoas se programem para andar de bicicleta”, diz. A Yellow registrou até o momento cerca de 40 mil viagens e teve como investidor o fundo internacional Monashees. 

Gabriel Arcon fundou a E-Moving em 2015. A empresa aluga bicicletas elétricas para períodos de um a 12 meses. Foto: Leo Martins/Estadão Foto: Leo Martins/Estadão

Com um modelo um pouco mais tradicional, a E-moving entrou no mercado em 2015 e apostou no aluguel de bicicletas elétricas para períodos mais longos, de um a 12 meses. “Acredito que a bike elétrica é o modal que cumpre melhor a sua função em terrenos acidentados, subidas e descidas. E também é possível percorrer distâncias maiores sem suor”, diz o CEO, Gabriel Arcon.  A empresa conta com 400 bicicletas, produzidas internamente desde 2016. Com o foco também no mercado corporativo, Arcon conta que embarcou na caminhada de convencer as empresas a enxergá-los como uma alternativa de benefício em transporte para os funcionários. “Hoje temos uma divisão de 60% de clientes pessoa física e 40% do corporativo.”

Além do aluguel e manutenção das bikes, a empresa também trabalha com acessórios para o usuário. “Oferecemos capacetes, cadeirinhas para crianças, o pacote completo para que o cliente não precise se preocupar com nada.”  A E-Moving acaba de fechar sociedade com a locadora de veículos Movida, que passará a oferecer o aluguel de bikes elétricas em parceria com a startup. “A bicicleta é o futuro das cidades”, completa Arcon. 

Pedaladas se tornam programa de vantagem

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O marketing de relacionamento foi a base para a criação do aplicativo hiBike, plataforma que funciona como rede de vantagem para ciclistas. “Por meio da interface com um aplicativo de tracker, incorporamos a quilometragem do ciclista. Além disso, também contabilizamos check-ins em grupos especializados ou eventos de bike, compras de bicicletas ou acessórios em lojas parceiras e transformamos tudo isso em pontos, que chamamos de pedais”, explica o diretor fundador do hiBike, Francisco Costa. Os ‘pedais’ se tornam descontos em serviços e produtos para os ciclistas em estabelecimentos credenciados no aplicativo.  Diversos tipos de empresas fazem parte da rede de vantagem, desde locais com foco neste tipo de público até lojas de vinil e cervejas artesanais. “Este é um mercado muito grande. Todo o tipo de pessoa pode ser um ciclista. Seja o que tem a bicicleta própria ou usa uma compartilhada. A tradicional ou a elétrica. Para o dia a dia ou para o lazer. Hoje as empresas entendem cada vez mais a importância dessa variedade.” Um nova versão da plataforma será lançará em breve, com o objetivo de concentrar o pagamento também no aplicativo. “Hoje o sistema gera uma senha, informada pelo ciclista no local parceiro.” Costa ainda revela que pretende expandir o alcance do aplicativo para cidades como Vitória (ES) e Belo Horizonte (BH). 

Evolução do uso das bikes Esta é a terceira e talvez a maior onda do uso de bicicletas nas principais cidades do mundo. A primeira foi a bicicleta individual e de uso privativo. A segunda foi a compartilhada, mas condicionada a acessos fixos. Agora temos a terceira, em que ela é compartilhada, geolocalizada e liberada em qualquer local. Uma ideia tão maluca quanto o Uber. Quem entraria em um carro de um desconhecido? Ninguém. Assim como ninguém deixaria uma bicicleta solta na rua. Startups disruptivas não apenas inventam um novo mercado, mas principalmente criam novos hábitos. /Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper.

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