Crise cria brechó de restaurante falido em SP

Preço de equipamentos usados pode chegar a 50% de um novo; alta projetada no segundo semestre não deve recompor as perdas do ano no segmento

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Por Vivian Codogno e Bruno de Oliveira
Atualização:

A crise que faz bares e restaurantes fecharem as portas em São Paulo aumentou a movimentação de compra e venda de equipamentos entre os empreendimentos. O cenário favoreceu o surgimento de uma nova modalidade de negócios, movimentando por comerciantes que se especializam na venda de artigos usados para outros estabelecimentos – uma espécie de brechós de restaurantes falidos.

Gabriel Marques montou uma pizzaria com equipamentos de segunda mão de um restaurante falido Foto: Marcio Fernandes|Estadão

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Ao menos cinco dessas lojas foram localizados pelo Estado, três delas na região central da cidade. São casas que já trabalhavam com a venda de equipamentos novos para restaurantes, como fogões industriais e câmaras frias, mas que agora têm maior parte de sua oferta em produtos de segunda mão. 

Segundo os comerciantes, nos últimos meses houve um aumento da demanda por esse tipo de produto tanto por parte de donos de restaurantes que buscam minimizar as perdas com o fechamento do negócio, quanto de empreendedores que vão abrir uma nova unidade ou querem modernizar a infraestrutura atual com itens seminovos. Para estes, o atrativo é o preço, que em alguns casos pode chegar a 50% de um novo.

“Há cinco anos, esse tipo de venda era muito tímida e desde então vem aumentando, a ponto de ser hoje 25% maior do que o movimento de produtos novos”, afirma Adriana Domingues, da Monte Sua Loja, na região da 25 de março. Ela conta que a oferta de produtos de segunda mão se transformou no carro-chefe da empresa, que antes comercializava apenas produtos novos.

Thiago Micaroni, proprietário da Chapadão Equipamentos, na região de Campinas, diz que a origem dos seus produtos de segunda mão são grandes restaurantes que não suportaram a crise. “Está havendo uma diminuição no mercado de restautantes para classe média e média alta. Eles estão fechando e restaurantes menores, de periferia, estão absorvendo esses equipamentos”, avalia.

A pizzaria Villa Roma, inaugurada em julho deste ano, é um exemplo de negócio que foi montado a partir dos equipamentos de um outro que fechou as portas. O preço pago pela estrutura usada, conforme aponta o proprietário Gabriel Marques, ficou pelo menos 30% mais em conta. O empresário notou um aumento considerável nos itens usados disponíveis. “Todo dia aparece alguma coisa para comprar. Vejo que tem muito desespero, pois há muita oferta e pouca demanda”, comenta. “Chegamos a pagar entre 30% e 90% do valor de um equipamento novo.” 

Joaquim Saraiva, presidente da Abrasel-SP, sinaliza que as lojas especializadas representam uma desvantagem para o empresário que está fechando o negócio. “A desvalorização do produto para revenda é alta. É (um negócio) bom apenas para quem compra.”

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Projeção. Uma Pesquisa que vai ser divulgada hoje pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) projeta uma alta de 3% no faturamento do setor para segundo semestre deste ano. No primeiro semestre, o setor registrou queda de 4,6%.

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