Clubhouse: empreendedores contam primeiras experiências no aplicativo

Para fundadores de startups, rede social mostra potencial para networking, eventos e acesso a grandes nomes; porém, pode potencializar ansiedade e fazer empreendedor gastar tempo em salas pouco úteis

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Por Letícia Ginak
Atualização:

Em quantas redes sociais você, empreendedor, está? Seja como administrador dos perfis da sua marca ou como pessoa física, talvez todos os dedos de uma mão já devem ter sido preenchidos nessa contagem - Facebook, Instagram, LinkedIn, Tik Tok e Twitter. Desde fevereiro, quando chegou ao Brasil, o Clubhouse surgiu para competir por mais espaço na memória do seu smartphone e também da sua mente. 

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Baseada em interações apenas por voz, o aplicativo funciona por meio de salas virtuais nas quais usuários podem ser moderadores, palestrantes e ouvintes, podem “levantar a mão” para falar. 

Do FoMO (fear of missing out, ou medo de perder algo, em tradução livre) ao acesso a grandes nomes do empreendedorismo de forma despretensiosa e gratuita, a rede social mostra potencial para fazer networking e praticar a escuta ativa, dizem empreendedores ouvidos pelo Estadão PME

Para Alessandra Andrade, coordenadora do hub de empreendedorismo e inovação da Faap, a rede pode potencializar a ansiedade em algumas pessoas. “O Clubhouse é um web summit 24 horas por dia, sete dias por semana. Como as salas e as conversas não ficam gravadas, as pessoas querem aproveitar tudo, podendo gerar uma ansiedade exponencial”, diz. 

Ao mesmo tempo, a professora ressalta a oportunidade de, sem pagar nada, receber um conteúdo muito relevante de pessoas que não estão próximas no dia a dia. “É uma boa ferramenta de apoio para eventos, networking e trocas programadas”, acredita. 

Sobre a relação das marcas com a rede, Alessandra diz que a dinâmica ainda não está muito clara. “Quem serão os porta-vozes que vão falar pelas marcas? Aí está o segredo da história. Como é que você vai usar da receptação de conteúdo das pessoas para agregar para a sua marca? Como se cria esse vínculo?”

Veja depoimentos que contam as primeiras impressões de empreendedores no aplicativo. 

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Barbara Brilhante estuda administração e engenharia de produção na FAAP; ela criou startup de mobilidade que está incubada na universidade. Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão - 28/02/2019

'Conversa rica sem ‘cara’ de evento online'

Por Bárbara Brilhante, recém-formada em engenharia de produção e sócia-fundadora da WeGott 

“Quando entrei no aplicativo, automaticamente ele já me colocou como seguidora de algumas pessoas, para que já existissem salas para entrar. Inicialmente achei essas salas meio chatas,porque não estava agregando muita coisa. Então parei de seguir essas pessoas e comecei a seguir perfis do meu interesse. 

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Participei de conversas em que estava o fundador da Enjoei (Carlos Brando), por exemplo. Conversei com muita gente que no meu dia a dia eu não encontraria mesmo fora do cenário de pandemia, porque precisaria ser em um evento pago. E lá eles estavam trocando ideias de como resolveram seus problemas no trabalho. Também tem muita gente no mercado que tem um conteúdo super legal, mas não tem uma câmera boa, um microfone para captar áudio, não tem uma edição legal para um vídeo. No Clubhouse, ele pode abrir uma sala e falar. 

O fato de a interação ser apenas em voz torna a conversa sem julgamentos. Parece que é um fim de dia no trabalho, quando você conversa sobre algo que aconteceu com os seus colegas. Penso como se fosse um podcast ao vivo, em que você pode participar da conversa. É isso o que torna a conversa rica sem cara de evento online. Passo o dia em uma sala com desenvolvedores que atuam em vários lugares. Sobre mudanças e atualizações no aplicativo, não acho legal colocar um chat por mensagem, por exemplo. 

IsabellaQuartarolli foca no desenvolvimento de líderes mulheres por meio da startup Women Leadership. Foto: Arquivo Pessoal

'Será que realmente você tem que estar em todas as redes sociais?'

Por Isa Quartarolli, fundadora da startup Women Leadership 

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“Entrei no Clubhouse na semana em que ele estreou. Achei meio estranho entrar em uma sala e ter um monte de gente falando ao mesmo tempo. Não gostei muito das experiências que eu tive. Sentio FoMO, porque parece que, se você não estiver lá ou se você não for convidado, você está fora de moda. 

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Algumas pessoasme perguntaram: 'Cadê a Women? Vocês não estão lá?' E eu pensei: 'Nossa, não tenho esse tempo, não dou conta de tudo isso. Estou aqui trabalhando o Instagram e o LinkedIn e vem uma outra rede social'. Ao mesmo tempo, vêm pessoas pressionando para você estar ali também. Eu tenho tantas outras coisas para fazer. E também existe uma vida para viver. Muita gente estava me chamando para participar de salas em um domingo. 

Se você entrar no Clubhouse, tem que ter um porquê de estar lá e promover conteúdo significativo. É muito legal o fato de dar oportunidade para outras pessoas terem voz, falar do seu negócio, do seu trabalho com um conteúdo através da escuta e da fala. A questão para mim é: vale a pena ou não você estar ali? Tanto para o seu negócio ou como marca pessoal. Como marketing pessoal, onde você quer propagar a sua presença digital? Será que realmente você tem que estar em todas as redes sociais? Vale pensar se seu público está ali.”

Unidade do coworking Eureka, na Av. Paulista, em São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão/05-19

'Talvez seja a evolução dos influenciadores para moderadores'

Por Daniel Moral, fundador da rede de coworkings Eureka 

“Minha primeira visão foi a da exclusão digital, por conta do acesso apenas para iPhone. Mas vi um grande ganho em conseguir conversar com pessoas que até então você não teria acesso. Não só de conversar, mas escutar o que as pessoas têm a dizer. Também participei de salas com temas que eu não procuraria normalmente, foi uma sugestão dada pelo Clubhouse, então achei o algoritmo bem bacana. 

Outro ponto é a internacionalização. Você pode participar de conversas com o mundo inteiro. Além do networking, você consegue escutar o que está acontecendo fora do Brasil. Não vi nenhum perfil empresarial, mas as pessoas estão trazendo a bandeira das suas empresas e discutindo temas relacionados.

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Acho que pode ser a evolução dos influenciadores para moderadores. Quando você segue um influenciador nas outras redes sociais, você é muito passivo. No Clubhouse, você tem a possibilidade de fazer perguntas e entender se esse influenciador é de palco ou se ele tem conteúdo para compartilhar. 

Ao mesmo tempo, a gente está vivendo uma avalanche de redes sociais e essa é mais uma que fica nas minhas notificações querendo tomar o meu tempo. É preciso fazer filtros e curadoria.”

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