Pode parecer estranho que em ano de crise alguém decida sair do emprego relativamente estável para montar seu próprio negócio. Mas foi exatamente o que fez Tiago Eduardo Genehr, que trabalhava como cervejeiro na Coruja, microcervejaria artesanal localizada no Rio Grande do Sul. O projeto, que vinha sendo estudado há alguns anos, foi finalmente concretizado em março deste ano, quando ele abriu a microcervejaria Sideral e o Espaço Sideral, uma loja própria para vender o que produz. “Acho que o momento da crise é bastante relativo. Tenho visto uma realidade bastante diferente na minha região. Vejo os bares de cervejas artesanais lotados, cada vez mais gente abrindo suas próprias cervejarias, eventos e festas que movimentam o nosso setor. Acredito que o momento é de expansão.”::: Estadão PME nas redes sociais ::: :: Twitter :: :: Facebook :: :: Google + :: O otimismo não é uma peculiaridade do discurso de Genehr. Outros microcervejeiros falam que, apesar da retração, 2015 marcou a expansão de seus negócios. É o caso de Alejandro Winocur, um dos sócio da Way Beer, empresa que conta com 22 funcionários e alguns colaboradores. “A gente aumentou nosso investimento em marketing. Nossos esforços não diminuíram e continuamos trabalhando da mesma forma.” A crise, ainda segundo Winocur, até apresentou para a empresa algumas oportunidades. A alta do dólar, lembra ele, possibilitou que pela primeira vez a marca exportasse para os Estados Unidos, justamente o maior e mais competitivo mercado de cervejas artesanais do mundo. De acordo com números divulgados pela Brewers Association, a organização que reúne os produtores artesanais daquele País, o setor movimentou, em 2014, algo em torno de US$ 20 bilhões. “Pensávamos em exportar já faz um tempo, mas isso só foi possível esse ano, quando o dólar disparou e nossos preços tornaram-se mais competitivos”, conta. O que talvez explique o otimismo das cervejarias pequenas diante da crise é o fato do mercado ainda ter um vasto caminho a percorrer no Brasil. “Se fosse mais saturado, certamente o impacto seria maior. Foi um ano levemente inferior ao de 2014, mas conseguimos investir, expandir para outros lugares e crescer”, explica Alexandre Sigolo, cervejeiro da Burgman, empresa que conta com 30 funcionários no interior de São Paulo.
De acordo com a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal, a participação das marcas menores no País não chega a 1%, embora esse número não traduza, na opinião dos empreendedores, a realidade. “O próprio conceito do que venha a ser cerveja artesanal ainda é motivo de confusão”, entende Genehr. No Congresso Nacional, inclusive, tramita, desde 2013, projeto que regulamentaria o mercado das microcervejarias artesanais. Na proposta, que ainda depende da análise de algumas comissões, as empresas, para ostentarem o rótulo de artesanais, não podem produzir mais de 30 mil litros anuais. Durante as discussões, os deputados ainda sugeriram aumentar esse ‘corte’ para 500 mil litros.