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Bancas de revistas ganham releitura com novos negócios

Serviço de bebidas e venda de livros dão novo significado a bancas, que sofreram redução de 25% nos últimos 10 anos na cidade de São Paulo

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Por Mateus Apud
Atualização:

As bancas de jornais e revistas, que sofreram uma baixa no mercado com a digitalização da informação, viram nos últimos anos a sua ressignificação a partir de novos negócios. São empreendimentos como Banca do Kiro, Banca Tatuí, Banca Curva e Combo Café & Cultura, que vendem produtos editoriais de outro jeito - ao lado até do serviço de bebidas.

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De acordo com a Secretaria Municipal das Subprefeituras, hoje há 2.371 termos de permissão de uso (TPUs) cadastrados para bancas de jornais e revistas na cidade de São Paulo. Em 2010, eram 3.178, uma queda de 25,4% em 10 anos.

Na Banca do Kiro, aberta há menos de um mês em Pinheiros (R. Cônego Eugênio Leite, 825), o espaço é alugado e funciona como um ponto de venda da bebida switchel (não alcoólica) e de livros com curadoria da editora Inesplorato. Segundo o sócio da Kiro Roberto Meirelles, o empreendimento nasceu por meio da literatura e por isso a ideia de abrir um espaço físico em uma banca. 

“Desde que abrimos a marca Kiro, em 2017, sempre tivemos interesse em criar um espaço de exposição da bebida e para as pessoas mergulharem na literatura. A banca de jornal engloba tudo isso, pois é um ponto ativo na rua e é um centro de cultura”, diz ele.

Antes vendido apenas em restaurantes, o switchel (feito de gengibre, vinagre de maçã, mel e água) pode ser levado em garrafas fechadas ou tomado direto de uma chopeira. Além dele, a curadoria de livros se lança a “entender o cenário atual social, econômico, político e cultural do País”, com títulos como Sintomas Mórbidos, de Sabrina Fernandes, e O Bem Viver, de Alberto Acosta.

Roberto Meirelles na Banca do Kiro, localizadano bairro de Pinheiros. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Foi uma decisão super acertada (de abrir a banca), pois conseguimos manter a origem da banca, que é promover cultura, e ao mesmo tempo ressignificando o espaço que estava se tornando obsoleto”, acrescenta o empreendedor. “Além disso, a banca é uma fachada ativa por si só. Faz parte do caminho do pedestre.”

Essa visão da banca de jornal como ponto de interação com os passantes também é compartilhada pelo dono da Banca Tatuí, João Varella. “A banca é um espaço muito democrático. Como ela faz parte da rua, ela tem esse caráter de estímulo, de convite, de acessibilidade para todas as pessoas.”

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Uma das pioneiras nessa onda das novas bancas, a Tatuí (R. Barão de Tatuí, 275, Santa Cecília) foi fundada em 2014 como complemento das atividades da editora independente de Varella, a Lote 42. “As grandes livrarias sempre rejeitaram as pequenas editoras e elas são obrigadas a sobreviver nas feiras. Então, nós articulamos a banca para ser uma espécie de feira permanente para essas pequenas editoras além da minha.”

Reunindo mais de 200 editoras independentes, a Banca Tatuí funciona como uma livraria do nicho e também conta com e-commerce. “Nesses cinco anos de banca, ela deu tão certo que já temos um desdobramento: a Sala Tatuí, onde buscamos promover uma espécie de apropriação cultural para região”, diz ele, sobre o espaço em frente à banca onde são realizados shows, lançamentos e cursos.

Curadoria de artistas

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Fundada em 2017, a Banca Curva (R. Dr. Cesário Mota Júnior, 340, Vila Buarque) é também ponto de encontro de artistas manuais, pintores e escritores. “Eu sempre trabalhei com arte dando aula e estive envolvido em feiras com meus trabalhos. Em 2018, resolvi encarar o desafio de ter um negócio próprio e quis abrir uma livraria colaborativa onde cada autor pudesse exibir suas obras", conta o sócio Rodrigo Motta.

Em busca de um espaço tradicional, calculou que os custos tornariam o negócio inviável. No meio do caminho, surgiu a ideia da banca. “Eu sempre morei aqui por perto e vi que tinha uma banca que não estava sendo utilizada. Conversei com o dono e o convenci a vender a banca pra mim. Daí, montei aquilo que queria para a livraria, um local com várias estantes de madeira onde cada autor fica em seu espaço.”

Com 8m², a Banca do Kiro vendeo switchel e diversos livros. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Com curadorias feitas trimestralmente, Motta afirma que a decisão de abrir a livraria colaborativa em uma banca é ótima para o nicho. "O primeiro ano foi muito de aprendizado. Desde então eu só tenho colhido frutos positivos, com os números da venda e de artistas que querem expor.”

Já a Combo Café & Cultura, inaugurada no começo deste ano (Al. Franca, 1.154, Cerqueira César), agrega aos livros o prazer do café, “dois prazeres atemporais”, na definição do sócio Lucas Ferrer Alves. “A banca é um espaço extremamente acessível. Ela está na rua, qualquer um pode chegar e cruzar a banca, ela está no seu caminho.”

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Com cafés especiais e mais de 1,5 mil títulos de livros, o empreendimento está alocado em uma das bancas mais antigas da região e sua curadoria foi feita para surpreender os clientes. Entre os títulos, há O Alienista, da Editora Antofágica, e O Arquipélago Gulag, da Editora Carambaia. “Todos os títulos são pensados e selecionados para surpreender e trazer coisas novas para quem quer tomar um café e ler um livro.”

* Estagiário sob a supervisão do editor de Economia, Alexandre Calais

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