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Ateliê de São Paulo vê mudança de público no ano passado

Consertar, reformar e alugar roupas são os novos caminhos para quem deseja empreender com êxito

Por Vivian Codogno
Atualização:

Passa das sete da noite quando o movimento começa a arrefecer no ateliê de moda e costura Modifiki e o gerente Daniel Nogueira Gomez consegue atender a reportagem. Há 26 anos em funcionamento na Vila Clementino, bairro de classe média de São Paulo, o negócio viveu em 2015 crescimento pouco usual na procura por reforma de roupas usadas. Dessa maneira, o faturamento médio mensal de R$ 40 mil subiu 30% com o aumento de 25% na demanda.

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A principal mudança notada por Gomez no fluxo de clientes do ateliê no último ano foi o fim da distinção de classe social de quem busca consertar roupas – hoje, até mesmo pessoas com maior poder aquisitivo estão resgatando peças antigas no armário para conserto. Há ainda a percepção de que o crescimento extrapola a característica geográfica que sempre marcou o negócio. Antes, a clientela ficava restrita aos bairros vizinhos. Agora, o público está disposto a fazer deslocamentos mais longos para reformar suas roupas usadas.

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“O modelo de produção ‘fast fashion’ trouxe para o ateliê um nicho de clientes que consome moda em maior quantidade. Aquelas clientes que viajam para o exterior, compram muito em outlet e traziam sacos de roupas para pequenos reparos” relembra Gomez. Com o aumento do dólar, porém, foi possível perceber que esse público, além de viajar com menos frequência, abandonou o consumo de roupas mais baratas e resgatou os itens de grife que estavam sem uso. “Então, vemos um cliente que prefere trazer seu jeans de grife, que já não serve mais, para ajustar, do que comprar uma peça mais barata e de qualidade inferior.”

Alessandra Andrade, coordenadora do centro de empreendedorismo da Faap, reforça que a variedade de opções para empreender com moda ganha destaque quando há retração no consumo por se tratar de um segmento permeado por profissionais criativos.

“Consertar, vender, reformar e alugar roupa são atividades crescentes e indicam, além da crise, uma obsolescência daquele consumismo desenfreado que experimentamos há pouco tempo”, define a especialista. “Agora que o consumidor tem que realmente colocar na ponta do lápis tudo o que está gastando, personalizar roupas é um caminho promissor. E tem um público”, pontua.

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A personalização tem sido um dos serviços oferecidos pelo ateliê Modifiki desde que a procura por ajustes aumentou. Agora, há a oferta de ‘remodelagem’ das peças que chegam para reforma e, uma vez o serviço executado, a roupa recebe nova etiqueta e é entregue como se fosse uma peça nova. Para Daniel, esse é um detalhe que fornece um viés de exclusividade, aspecto procurado pelas classes mais altas mesmo em tempos de baixa no poder aquisitivo.

“Aprimoramos nosso atendimento e pós-atendimento, a embalagem das peças, a recepção do cliente em nosso espaço, entre outros pontos da experiência, para que o serviço subisse do patamar de ‘costureira-consertos’ para ‘consultoria de moda’. O conceito vendido é o que podemos fazer na sua peça para melhor o caimento, o modelo”, comenta o empresário.

Tendência. A gestora cultural e especialista em movimentos de desaceleração do consumo Tatiana Weberman avalia que a adesão aos consertos tende a ser profunda e irreversível, mesmo que a economia do País volte a crescer. “Ninguém tem mais tanto dinheiro assim. E existe uma reflexão sobre as questões do planeta, se isso não virar pauta a humanidade não resiste”, comenta.

“O consumo não vai deixar de existir. Mas as empresas vão ter que começar a pensar um pouco mais em como adequar sua atitude à economia. Uma empresa de roupas pode vender, mas manter também um armário compartilhado, por exemplo. Não vamos mais ter matéria-prima para produzir em escala”, analisa Tatiana.

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