'As pessoas estão empreendendo do jeito errado', diz Facundo Guerra

Responsável por alguns dos empreendimentos mais badalados da noite paulistana, Facundo Guerra mistura a própria personalidade com a de seus negócios e subverte a visão de empreendedorismo

PUBLICIDADE

Por Letícia Ginak
Atualização:

Depois de uma demissão traumática e a dificuldade de voltar ao mercado de trabalho, Facundo Guerra, criador do Grupo Vegas e um dos empresários mais importantes da noite paulistana, empreendeu pela primeira vez por desespero. Hoje, após 12 anos da abertura do Vegas Club, casa noturna que revitalizou e modificou a visão do público sobre a região do Baixo Augusta, Facundo é o idealizador de sete negócios, todos na cidade de São Paulo: Yatch, Mirante 9 de Julho, Riviera Bar, Lions, Cine Joia, Z Carniceria e o recente Bar dos Arcos, com inauguração oficial prevista ainda para 2017. O argentino mais paulistano que a cidade de São Paulo já adotou acaba de escrever o livro “Empreendedorismo para subversivos”, com lições nada ortodoxas sobre o tema. Em entrevista ao Estadão, Facundo Guerra, um dos palestrantes da Semana PRÓ-PME, explica que, para ele, empreender é uma viagem de autoconhecimento.

PUBLICIDADE

:.Veja toda a programação do evento.:

Uma das primeiras frases do seu livro é “Empreendedorismo: ele nos dá um propósito, algo além da sobrevivência”. Qual é o seu propósito? Você tem que ter uma razão para empreender. Porque empreender é se expressar através do seu produto, expressar a sua visão de mundo. Seu produto é um pedaço de você, ele reflete a sua cabeça. O meu propósito em empreender é responder “o que é ser paulistano?”. O Lions responde essa pergunta, o Riviera, o Cine Joia, o Mirante, o Bar dos Arcos. E é ser menos Borba Gato e mais Mario de Andrade.

Além da falta de propósito, quais outros erros no empreendedorismo que você aponta? A falta de capacitação técnica. Não adianta empreender sem saber fazer uma planilha no Excel, não saber o que é contas a pagar e receber, o que é capital de giro. Você precisa estar minimamente capacitado. As pessoas estão empreendendo do jeito errado. Não tem tecnologia, não tem inovação. A pessoa abre uma franquia ou cai em um modelo de pirâmide e pensa que está empreendendo. E depois vem o desejo de expansão, que é quando a pessoa quebra. Para que você está expandindo? Você quer conquistar o mundo? É o modelo “big, better, faster”. E quanto mais dinheiro, mais o seu custo de vida aumenta, mais você quer se diferenciar do seu par, mais você afunda. O que é dinheiro? A gente precisa repensar o que é dinheiro.

Outro ponto de destaque do livro é que você fala muito sobre o fracasso. Como lidar com o ele? Muita gente empreende por razões equivocadas. As pessoas pensam que elas vão ficar ou mais ricas ou mais livres, querem esse resultado nos primeiros anos e não é isso o que vai acontecer; muito pelo contrário. Você precisa ter uma razão maior. É por isso que a taxa de fracasso nos negócios é de quase 80% entre os dois primeiros anos. Você precisa saber por que você está empreendendo. Se for por mais dinheiro ou mais liberdade, como já disse, você vai se decepcionar. E existe a crença de que se você falhar é porque você não fez o suficiente, não é bom o bastante. Precisamos falar sobre isso, as pessoas estão se lançando no mercado para depois sucumbir.

Em seus negócios existe uma mistura entre o apoio ao pequeno e a parceria com grandes marcas. Com você dosa isso? A grande marca pode apoiar meu negócio, mas ela não pode interferir na programação ou aprovar e desaprovar nada. As marcas hoje precisam se posicionar e, se a narrativa é mentirosa, se tem oportunismo, uma hora isso aparece e estoura na cara da empresa. Isso acontece com o pequeno e com a grande marca. Eu tenho a minha verdade e sei que consumir é um ato politico, uma escolha de mundo.

O que você falaria para quem vai empreender hoje? Empreender é uma viagem sem retorno, você sai do mercado de trabalho e não vai conseguir voltar. E você não precisa obedecer às regras, porque elas estão aí para serem quebradas, subvertidas. Hoje você pode “googlar” e adquirir todo o conhecimento que você precisa. Eu reformei uma moto sozinho “googlando”, então é possível. Além disso, têm as redes sociais, plataformas como o crowdfunding. Eu compartilho meus erros e tento dissuadir as pessoas a empreender, a falar que elas estão empreendendo pelas razões erradas. 

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.