Apps modernizam 'tabelinha' e atraem mulheres e empresas

Ferramentas ganham espaço a medida que publico feminino repele anticoncepcionais com hormônios

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Por Vivian Codogno
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A tabelinha, método contraceptivo conhecido pelo seu alto índice de permissão em gravidezes acidentais, está a caminho de uma releitura em busca de eficiência. Para atender a uma parcela de mulheres, cada vez mais crescente, que rejeita anticoncepcionais à base de hormônios, startups criam aplicativos que auxiliam o controle do ciclo reprodutivo por meio de calendários e alertas que se assemelham ao antigo método.

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Um deles é o NaturalCycles, criado pelo casal de físicos suíços Elina Berglund e Raoul Scherwitzl. A proposta é 'traduzir' a temperatura corporal da mulher como informação sobre o seu ciclo reprodutivo. Os dados, então, são enviados ao aplicativo que, por sua vez, traça um perfil do corpo feminino. Com as oscilações típicas de cada momento, o smartphone envia notificações sobre quando a mulher está suscetível à gravidez.

Entre agosto do ano passado e o mesmo mês deste ano, Raoul viu o número de usuárias do aplicativo subir de 10 mil para 70 mil e credita essa expansão ao aumento da demanda pela contracepção personificada. A adesão é feita de forma anual e custa, no Brasil, R$ 99,90. A usuária recebe, além da licença do aplicativo, o termômetro para medir a temperatura diariamente.

"A partir de um algoritimo matemático, desenvolvemos um método que encontra os dias férteis da mulher com 99,9% de segurança. O aplicativo é inspirado por mulheres que querem ter controle sobre sua fertilidade, querem compreender seus corpos em vez de alterá-los com hormônios", explica Scherwitzl.

No Brasil, a procura por esse tipo de contracepção tem despertado o interesse de grandes marcas, como o laboratório Boeringher Ingelheim, responsável pela fabricação do remédio para dores abdominais Buscofem. Há um ano a empresa lançou o app gratuito 'Sai Cólica'. Disponível para sistemas Android e iOS, o sistema funciona como um calendário menstrual, que permite o registro de informações, como dias em que a usuária esteve menstruada, e sintomas de tensão pré-menstrual, e as usa para emitir alertas sobre o período fértil.

De acordo com o Sydney Rebello, executivo da Boeringher Ingelheim no Brasil, o público feminino jovem tem uma demanda ainda não atendida por uma linguagem leve e humorada sobre assuntos como o período menstrual.

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"Hoje, notamos que há um nível de interação não só com a consumidora jovem, que era nosso target inicial, mas com uma consumidora mais velha também", explica Rebello. "Precisamos dar continuidade a isso. Tem bastante coisa acontecendo nessa esfera e temos o objetivo de ser proprietários do território menstrual no mundo digital. Por que não ampliar as possibilidades?", reflete.

Atualmente, o Sai Cólica tem um milhão de downloads e em seu quarto mês de funcionamento foi o terceiro aplicativo mais baixado no Brasil, perdendo apenas para o Facebook e o Instagram.

Eficácia. Por se tratarem de versões modernas da tabelinha, os aplicativos não devem ser usados como único método contraceptivo, pontua a ginecologista e coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, Barbara Murayama. A especialista ressalta, porém, que são ferramentas eficientes para que as usuárias conheçam o próprio corpo e o ciclo reprodutivo.

"Conhecer o corpo passa por conhecer o ciclo menstrual. Quanto mais informações a paciente trouxer para o consultório, mais eficiente será o tratamento de sintomas de tensão pré-menstrual ou outros problemas. Aconselho o uso, mas não como contraceptivo", explica Barbara. "Esses aplicativos nada mais são do que diários", finaliza.

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