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A última fronteira da nova medicina

Assim como o segmento do agronegócio, a área de saúde reúne diversas chances para uma série de empreendedores

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Por Vivian Codogno
Atualização:

De aplicativos para gerenciamento de prontuários médicos aos wearable devices, o mercado da tecnologia em saúde vem crescendo de forma exponencial no Brasil atualmente. Em pouco tempo, negócios com a proposta de reduzir as filas de espera em consultórios e hospitais, bem como otimizar a comunicação entre médico e paciente, ganharam muitos adeptos nos dois lados do atendimento médico. 

Segundo dados da consultoria PwC, os fundos de investimento e empresas do segmento de healthcare devem injetar R$ 17,43 bilhões ao PIB nacional até 2017 e o ecossistema de startups do País está atento a esse movimento. Com inspiração no mercado norte-americano, que deve somar até o fim deste ano cerca de US$ 4 bilhões investidos em aceleração de iniciativas com viés de saúde, empresas brasileiras apostam no desenvolvimento de facilidades para a rotina dos profissionais da saúde com a intenção de abocanhar parte deste mercado, que cresceu 160% em novos empreendimentos no último ano, conforme a Associação Brasileira de Startups (ABStartup).

Startup de Moraes projeta crescimento de 750% Foto: Gabriela Biló/Estadão

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O movimento tem se acentuado tanto que já vem sendo tratado como uma ‘corrida do ouro’ em busca de médicos que pretendem ampliar as possibilidades de atendimento e otimizar a rotina dos consultórios por meio da tecnologia. No Brasil, ainda de acordo com a ABStartup, 31% das empresas de tecnologia voltadas para a saúde têm como principal foco de criação os profissionais da área, enquanto 15% voltam-se para os pacientes. E essa distância tende a aumentar nos próximos anos em favor dos médicos.

De olho nessa curva ascendente, a Memed, startup paulista criada em 2012, planeja dobrar até o fim do ano o número de médicos atendidos - que hoje estão na casa dos 30 mil. A empresa cresceu 750% em 2015 com o foco – agressivo – no desenvolvimento de tecnologia para digitalização de prescrições médicas. Por meio de um software criado pela empresa, a prescrição é emitida de forma eletrônica e, até o próximo ano, a ideia de Ricardo Moraes, CEO de Memed, é desenvolver um sistema para o médico enviar a prescrição à farmácia.

Moraes analisa a fertilidade do ecossistema de startups de saúde com bons olhos e projeta aumento de soluções semelhantes à sua. “Na época em que nascemos, havia uma explosão de startups de e-commerce. Nas rodadas de investimento, éramos sempre um patinho feio”, relembra. “O que percebi ao longo desses anos é que, fora do País, a saúde virou a grande aposta do venture capital”, comenta. “Por aqui, temos uma população médica de 400 mil profissionais ativos. Esses médicos querem atender mais. Vejo perspectivas positivas para o curto prazo”, analisa. 

Esse otimismo também foi captado pela Berrini Ventures, única aceleradora de startups direcionada para iniciativas segmentadas em heathcare do Brasil. A empresa acelerou no último ano oito startups e vê na estratégia da mobilidade um caminho para a captação de recursos junto a fundos de investimentos. “A corrida do ouro está na ‘ubertização’ da saúde, em colocá-la em um aplicativo. O vencedor vai levar essa corrida”, comenta o CEO da Berrini Ventures, Fernando Cembramelli. “A tecnologia na saúde é a última fronteira do avanço cibernético. O médico que se forma atualmente já nasceu no meio digital”, analisa o CEO. 

Com o olhar voltado para esse jovem profissional, que já chega ao mercado inserido em um contexto tecnológico, a startup iClinic, nascida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, propõe o fim da ‘papelada’ no consultório médico por meio da digitalização dos procedimentos médicos. O CEO e fundador da iClinic, Felipe Lourenço, calcula que 70% dos médicos à frente de pequenos consultórios e clínicas utilizam papéis em excesso na gestão diária e acabar com essa realidade é o foco do seu negócio.

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“Há um desalinhamento da comunicação entre pacientes, prestadores de serviços e operadoras de saúde. As informações entre esses agentes não são compartilhadas de forma inteligente”, avalia o empreendedor. Lourenço planeja, para este ano, crescer em 250% o faturamento da empresa – o valor não é revelado por conta de um acordo com investidores da startup. A estratégia adotada pelo especialista será desatar uma busca frenética pelo profissional da área. “Vai fazer diferença quem focar na experiência e na necessidade desses três agentes. Quem realmente for a fundo e mapear quais são esses processos vai perenizar seu negócio.”

Associação. Diante das oportunidades que surgem, representantes do segmento se reuniram para criar a Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSSaúde), que será oficializada para o público no início de agosto. Liderados por Ricardo Moraes, da Memed, entre outros integrantes deste mercado, empreendedores da área miram agora a regulamentação de serviços ligados à tecnologia para expandir as possibilidades de soluções disruptivas no setor.

“As startups de saúde têm uma curva de maturação mais lenta que as demais. Os mercados de saúde tendem a encontrar entraves no ambiente regulatório e na percepção de tecnologia dos médicos”, comenta Moraes. “Não é um segmento fácil de regular. E, a partir de agora, as startups que surgiram há um tempo precisam de espaço fértil para crescer”, pontua.

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