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A difícil equação do PIB para o pequeno e médio empresário

Especialistas consultados pelo Estadão PME avaliam os efeitos do índice negativo para o empreendedor

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Por Vivian Codogno
Atualização:

A economia brasileira enfrentou no ano passado a maior recessão desde 1990. O Produto Interno Bruto retraiu 3,8% e o comércio, reduto tradicional de atuação das pequenas e médias empresas, foi o mais afetado, com queda de 8,9%. Ligados diretamente ao poder de compra das famílias, esses negócios sentem os efeitos da queda de 4% no consumo, também detectado pelo PIB. 

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Por estar atrelado ao cliente final, o faturamento das PMEs se compromete em tempos de retração econômica. "O consumidor de baixa classe está perdendo poder de compra e não está disposto a comprometer a renda futura", analisa o assessor econômico da FecomercioSP, Vitor França. 

Analistas consultados pelo Estadão PME avaliam que cenário desfavorável que vem se desenhando desde o ano passado tende a piorar o campo de batalha dos pequenos e médios em 2016. Além da baixa circulação de capital, uma vez que as pessoas resistem em consumir, o desemprego pode tornar o campo mais competitivo, pois abrir um negócio pode ser a única saída para voltar ao mercado de trabalho. 

Comércio foi o setor mais prejudicado pela crise Foto: SERGIO NEVES|Estadão

No ano passado, 46% das empresas novas, que já pagam salários e pro-labore, foram abertas a partir da necessidade do proprietário, índice superior aos 33% detectados no ano anterior. Dos negócios nascentes, aqueles que ainda não recolhem remuneração ou apresentam faturamento expressivo, 36% surgiram desta forma, patamares do chamado empreendedorismo por necessidade mais altos dos últimos cinco anos no Brasil. Em 2014, 13% se encontravam nesta situação.

Para o economista da FecomércioSP, será exigida do empresário uma maior capacidade de adaptação nos próximos meses. "O fundo do poço ainda não chegou. As informações que chamam mais atenção -- a aceleração da queda do consumo das familias e brusca baixa no investimento -- prejudicaram as pequenas e médias no último trimestre do ano passado", pontua França. "O pequeno empresário no Brasil precisa ser, antes de tudo, um forte", avalia o economista.

Na esteira da recessão histórica, o setor de serviços, responsável por abrigar negócios de pequeno porte, encolheu 2,7%, maior baixa desde 1996. "O chamado setor terciário abriga cerca de 60% da mão de obra empregada. Como ele tem ido mal, isso retroalimenta a crise", avalia o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.

Para ele, os negócios de pequeno porte são os últimos a sentir os efeitos da retração, porém, o desemprego tende a trazer à tona o fenômeno das empresas informais, algo que o País vem tentando erradicar. "Se a economia não reagir, podemos voltar a ter uma degradaçãpo do mercado. Podemos perder todo aquele ganho dos últimos anos em formalidade", avalia Bentes. 

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O setor de serviços, nos casos das empresas criadas com pouca ou nenhuma estrutura, é o mais procurado. "Não vou ficar surpreso se nos próximos meses percebermos um movimento de aumento dos microempreendedores em serviços" avalia.

Pessimismo. O professor do MBA Executivo do Insper, Alexandre Chaia, avalia que as perspectivas negativas, chanceladas pelos índices de 2015, tendem a agravar o cenário econômico do País neste ano. Para ele, o pessimismo é o maior responspavel pela queda de 14,1% nos investimentos apontada pelo PIB. 

"Se o empresário percebe que as famílias estão mais receosas em consumir, ele vai produzir menos, diminuir estoque futuro. Se existe uma percepção de que o consumo das famílias vai ser menor, reduz a alavancagem da produção", pontua. 

Para o especialista, ainda há capital circulando em setores como comércio e serviço porque mesmo quem perdeu o emprego em 2015 ainda possui renda de benefícios como o seguro-desemprego, o que não deve se repetir no primeiro semestre deste ano. "A primeira onda da crise não afetou o pequeno e médio. Seguro-desemprego e recisão mantiveram o consumo. E não adianta dar linhas de crédito. A pessoa não toma o crédito porque não acredita que o futuro vá ser melhor", pontua.

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