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40% dos moradores de favelas desejam abrir o próprio negócio

Mais da metade dos empreendedores são mulheres e principais focos são alimentação e serviços

Por Vivian Codogno
Atualização:

Quatro em cada dez dos 12,3 milhões de moradores das favelas brasileiras sonham em ter o próprio negócio. Entre eles, mais da metade planeja empreender nos próximos três anos. Os dados, revelados pelo instituto Data Favela, mostram que quem vive em comunidades têm mais vontade de empreender do que a população brasileira em geral, 40% e 23%, respectivamente.

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A maior parte dos moradores de favelas que desejam trabalhar no próprio negócio, o equivalente a 35%, pensa em investir no setor de alimentação. Do total, 63% querem empreender dentro da favela onde vivem. A pesquisa traça o perfil dos novos empreendedores que moram em favelas e constata que a maioria (51%) tem mais de 25 anos e é casada, 51% são mulheres e 56% pertence à classe C. “Ao contrário do que muitos devem pensar, o aumento do empreendedorismo na favela não acontece por falta de emprego. Dois terços dos moradores de comunidades querem empreender por oportunidade de negócios. Eles identificam aí uma chance de crescer na vida”, explica o presidente do instituto Data Favela, Renato Meirelles. Os itens básicos são o principal foco dos negócios nas favelas e fomentam o consumo local. Entre os moradores que fizeram compras nos últimos 30 dias, 82% compraram no comércio da própria comunidade. De acordo com Meirelles, os negócios nas comunidades estão diretamente ligados a insumos simples, como os ligados ao ramo alimentício. “É muito mais fácil ir a um atacado e levar guloseimas para a favela do que levar geladeiras, computadores. E produtos mais caros exigem uma formalização que ainda não chegou até lá”, explica. Empreender na favela foi determinante para o sucesso do conceito da marca de produtos estéticos Beleza Natural, especializada em tratamentos para cabelos cacheados. Idealizada pela então funcionária de uma rede de fast food Leila Velez, pela cabeleireira Zica Assis e por mais dois sócios, a rede conta hoje com 26 institutos que realizam, juntos, 130 mil atendimentos ao mês. “Nosso produto é direcionado para a classe C e com o intuito de ser acessível. Queríamos desenvolver um produto que valorizasse os cachos sem tirar a sua identidade, que é uma necessidade das moradoras da favela. Existe uma demanda reprimida muito grande para essa população. A classe C é mal entendida, mal atendida e mal servida”, explica Leila. A empresária garante que a rede de comunicação estabelecida na favela foi determinante para que os clientes adquirissem confiança na marca. O contato direto entre os moradores, para Leila, é mais poderoso do que campanhas publicitárias. “A força do boca a boca é inegável no nosso negócio. O consumidor satisfeito na favela é um multiplicador imediato e sempre nos beneficiamos disso”, relata. O presidente do instituto Data Favela confirma a tendência apontada pela empresária. “Na favela, as demandas são compartilhadas entre os moradores, todo mundo conhece as necessidades dos vizinhos. Esse diálogo é um grande fomentador do empreendedorismo”, ressalta Meirelles. “A tendência é que os produtos cheguem cada vez mais da favela para o centro e não o contrário, como vem acontecendo há tantos anos. Cada vez mais a estética das favelas tem ganhado peso no asfalto”, reflete. O estudo foi realizado com 2 mil moradores de favelas localizadas em nove regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Brasília) e no Distrito Federal.

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