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Opinião|Por que a empresa mais inovadora do mundo contraria as principais práticas atuais de inovação?

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Atualização:

 Foto: Estadão

Há muitos anos, setembro é o momento da empresa mais inovadora do mundo, de acordo com o ranking da revista Fast Company, anunciar seus lançamentos. E é isso que Tim Cook, CEO da Apple tem feito desde 2011. Quando assumiu, praticamente todos questionavam se Cook conseguiria manter o incrível crescimento liderado por Steve Jobs desde o seu lendário retorno à empresa que tinha fundado e posteriormente havia sido demitido. O discretíssimo Cook pegou uma empresa vitoriosa que valia cerca de US$ 330 bilhões e, inacreditavelmente, triplicou seu valor, rompendo a barreira de ser a primeira organização do mundo a valer mais de US$ 1 trilhão em 2018.

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Por atingir esta marca, tida por muitos como uma missão impossível, o evento especial de lançamento dos novos produtos da Apple em 2018 era especialmente aguardado. E logo na

abertura do evento

, os primeiros cinco segundos da música do filme Missão Impossível já dava uma sensação confusa em quem acompanhava a transmissão. Seria algo inovador ou só mais um clichê? No filme, uma moça, aparentemente uma funcionária da Apple, corre para o auditório com uma maleta, enfrentando diversos obstáculos. Depois de ignorar a sugestão da Siri, a assistente virtual da empresa e ultrapassar várias barreiras, consegue entregar a maleta à Tim Cook. É revelado então o grande segredo que havia dentro da maleta: um antiquado passador de slides. Cook pega o clicker, entra no tablado, o evento começa e ele pergunta para a plateia: O vídeo não é divertido?

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Desde que Cook se tornou o principal executivo da empresa, a Apple vem sendo questionada sobre sua real capacidade de inovação já que, quase sempre, seus concorrentes já haviam lançado antes soluções semelhantes. Mas quem conhece a trajetória da empresa, sabe que a empresa sempre agiu desta forma. E mesmo assim, a empresa fundada por Steve Jobs sempre foi considerada inovadora.

E mesmo sendo a empresa mais inovadora do mundo, a Apple contraria boa parte das principais práticas de inovação que está sendo adotada, em larga escala, pelas organizações que querem ser inovadoras.

O primeiro paradoxo diz respeito à inovação radical, fetiche de um número crescente de empresas ao redor do mundo que querem se transformar em organizações exponenciais. "

Nunca tivemos vergonha de roubar grandes ideias..

." - dizia Steve Jobs ao citar a frase de Pablo Picasso, um dos seus ídolos: "

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Bons artistas copiam, grandes artistas roubam...

"

Como ser radicalmente inovador, copiando os outros? De forma muito sincera e corajosa, Tim Cook explica: "

Você pode escolher qualquer um dos nossos produtos - iPod, iPhone, iPad, Apple Watch - eles não foram os primeiros, mas foram os primeiros modernos, certo?

Outro paradoxo diz respeito às abordagens de

Lean Startup

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,

Design Thinking

e outras técnicas de cocriação com clientes. Enquanto há um movimento crescente de inovação aberta, a Apple se fecha e quase nada é conhecido pelo mercado antes do evento anual de setembro. Tudo é feito dentro da empresa. "

Porque não acreditamos em usar nossos clientes como um laboratório.

" -  explica Cook.

Além disso, outro contrassenso diz respeito a aumentar a velocidade do desenvolvimento de inúmeras inovações ao mesmo.

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"Não queremos que nosso pessoal se concentre em bits, bytes, entregas parciais ou em ser veloz...

" - esclarece Cook. "

É preciso ter certeza que você está focado naquilo que realmente é relevante... O que eu acho que nós temos e que é único é paciência. Nós temos paciência para esperar até que algo seja grandioso antes de enviar para o mercado

" - continua.

E, por fim, outra aparente contradição diz respeito ao alarde do domínio das novas tecnologias. "

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Nós somos um grupo de pessoas que está tentando mudar o mundo para melhor, isso é o que nós somos. Para nós, a tecnologia está em segundo plano.

" - declara Cook.

Por isso, a receita contraditória de inovação e bons resultados da Apple é resumida na crença deste líder que acha engraçado um filme sobre um passador de slide: "

Para mim, isto diz respeito a produtos e pessoas. Nós fizemos o melhor produto e tornamos a vida das pessoas melhor? Se nós estivermos fazendo estas duas coisas e, obviamente, se elas estiverem incrivelmente conectadas, porque uma leva à outra, então, teremos um bom ano

."

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Marcelo Nakagawa é Professor de Inovação e Empreendedorismo do Insper.

 

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