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Opinião|Pesquisa aponta urgência em se combater desigualdades entre empreendedores de impacto

Acesso ao capital inicial nas periferias é 37 vezes menor que negócios sociais de outras regiões, aponta FGV; desigualdade social também é refletida no rendimento dos empreendedores periféricos

Atualização:

No final de 2021, o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV) conduziu o estudo Perfil dos Empreendedores de Impacto no Brasil: o desafio das desigualdades territoriais, que evidenciou como o apoio ao ecossistema ainda é relevante para que empreendedores sociais possam ter um melhor equilíbrio financeiro e inovar mais e de forma sistêmica. Coordenada pelo professor Edgard Barki, a pesquisa mostra como a desigualdade social do País é refletida neste ecossistema de negócios.

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Uma análise relevante trazida pelo estudo, entre tantas, foca nas diferenças entre os negócios de impacto dentro e fora das periferias - que começam já na concepção do empreendimento. Enquanto o acesso ao capital inicial é 37 vezes maior entre os empreendedores que não são da periferia, ocasionando receitas 21 vezes maiores e escala de atuação 15 vezes maior, os empreendedores periféricos lidam com a impossibilidade de errar, a dificuldade de acesso a crédito e o prejuízo constante. 

Estamos falando de desigualdades gritantes entre esses empreendedores, a começar pelo próprio perfil - a maior parte das pessoas que empreendem nas periferias são mulheres negras e que têm um rendimento do negócio abaixo de dois salários mínimos. Fora das periferias, a maioria dos empreendedores sociais é formada por brancos, há equilíbrio de gênero e o rendimento líquido dos negócios supera os R$ 12.450 mensais. A pesquisa mostra que a percepção de que são inovadores tem maior grau entre os empreendedores fora das periferias, enquanto os negócios periféricos são mais avessos ao risco.

Abismo entre empreendedores de impacto mostra que os negócios periféricos têm acesso a capital inicial 37 vezes menor que os não periféricos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Apoiada pela Fundação Arymax, a pesquisa revela que os empreendedores sociais têm um perfil mais altruísta, com empreendedores mais preocupados com o bem-estar coletivo: 63% dos entrevistados disseram, inclusive, estar satisfeitos ou totalmente satisfeitos com o próprio trabalho; entre líderes de negócios da periferia, esse índice é de 44%.

Entre os principais desafios para crescer, apontados no levantamento, estão gerir o crescimento interno (56%) - que significa adaptar as estruturas de gestão e achar novos colaboradores -; garantir crescimento suficiente de capital/financiamento (42%); e determinar o modelo mais eficaz para aumentar o nosso impacto social (36%).   

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O diagnóstico trazido pela pesquisa é muito valioso e revela a urgência, na minha opinião, de combatermos as desigualdades de oportunidades dentro do ecossistema de negócios de impacto. Entre as conclusões, destaco:

  1. Os negócios de impacto no Brasil têm uma escala de impacto relevante na sociedade e atuam fortemente, beneficiando grupos de desfavorecidos - em especial, famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica, mulheres, jovens, crianças e minorias étnicas.
  2. Há um bom nível de satisfação com o próprio trabalho, mas isso não é realidade entre os empreendedores e empreendedoras negras e das periferias.
  3. Os empreendedores sociais - em especial, os das periferias - ressentem-se da pouca ajuda do Estado, das empresas e do terceiro setor. Ainda assim, as parcerias com os dois últimos são muito relevantes, sobretudo, para o acesso a recursos.
  4. Os resultados da pesquisa evidenciam que o apoio a esse ecossistema é ainda relevante para que os empreendedores sociais possam ter um melhor equilíbrio financeiro e inovarem de forma sistêmica.

Para saber mais sobre o estudo, recomendo a leitura na íntegra.

* Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.

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Opinião por Maure Pessanha
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