PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Fique por dentro do cotidiano da pequena empresa como você nunca viu antes.

Opinião|Grandes empresas têm papel importante em futuro mais sustentável

Por terem recursos financeiros, além de talentos e infraestrutura, grandes corporações podem conferir escala a soluções inovadoras, que resolvam problemas atuais

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

No livro A Inteligência Coletiva, o filósofo Pierre Lévy defende que esse conceito antecede a espécie humana: as abelhas trabalham juntas na produção de mel para a comunidade; as formigas conseguem sinalizar onde estão as coisas mais apropriadas para o consumo de toda a colônia; alguns mamíferos desenvolveram uma hierarquia social que os permite sobreviver da melhor maneira possível.

PUBLICIDADE

Mestre em História da Ciência e PhD em Comunicação, Sociologia e Ciências da Informação pela Universidade de Sorbonne, Lévy aponta que, no caso do ser humano, podemos desenvolver e aprimorar essa capacidade, porque contamos com a linguagem. Com ela, temos o poder de acumular memória, aperfeiçoar a comunicação, melhorar o raciocínio e criar melhores formas de coordenar nossas ações nos negócios, na política ou em qualquer área de interesse.

No meu entendimento, a inteligência coletiva pode, então, levar a sociedade a um novo patamar civilizatório. Quando pensamos em um cenário de novas economias e modelos sociais, podemos redesenhar o papel das grandes empresas, tornando-as aceleradoras de um futuro mais equilibrado do ponto de vista social e econômico.

No cerne dessa crença, o fato de essas companhias terem responsabilidade (massa crítica, recursos financeiros e influência setorial) e ativos importantes (talentos, infraestrutura, conhecimento e capilaridade) para conferir escala a algumas das soluções mais inovadoras e necessárias para os problemas que vivemos hoje.

Acredito que essas grandes corporações têm o papel de ajudar, cada vez mais, a avançarmos na construção de pautas ligadas a um futuro mais sustentável e igualitário a partir das alianças que possam estabelecer entre elas - com o objetivo de mudar a indústria e o mercado - e via coalizões com organizações de naturezas distintas às delas. Estou falando de parcerias com a sociedade civil, com o governo e com negócios de impacto. Na prática, realmente criando algo que seja maior do que a soma de todas as partes.

Publicidade

Vista do distrito de Jardim Angela, zona sul de São Paulo. Foto: Marco Torelli

Em suma, acredito no papel das grandes empresas e no potencial de colocar recursos, conhecimentos e capilaridade em prol da coletividade. Há muitas empresas que chegam em todos os cantos do Brasil e podem usar essa força a serviço da criação de uma plataforma para que inovadores sociais, empreendedores e empreendedoras possam se plugar e melhorar questões essenciais no planeta e na vida das pessoas em situação de vulnerabilidade econômica.

A Artemisia sempre pautou a própria atuação pela noção de coletividade. Hoje, como exemplo recente, a organização está envolvida em um projeto para tentar solucionar os desafios da habitação - com foco na população de baixa renda - que passa por uma coalizão construída com a Gerdau, Instituto Vedacit, Tigre e Votorantim Cimentos; além do apoio da CAIXA e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR).

Trata-se do programa gratuito de aceleração de curto prazo chamado Lab Habitação: Inovação e Moradia. Nesse contexto, identificamos e apoiamos empreendedores que têm soluções para a população de menor renda dentro de eixos específicos: acesso à moradia de qualidade; soluções financeiras para habitação; reformas habitacionais; gestão de condomínios de habitação popular; água e saneamento; energia; empregabilidade na construção civil; regularização fundiária; infraestrutura e melhoria do espaço público; e inovação na construção civil.

O jovem arquiteto tem que saber que quem mais vai precisar dele são clientes em situação de vulnerabilidade

Vale ressaltar que atuamos com negócios alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Erradicação da Pobreza (ODS 1); Água Potável e Saneamento (ODS 6); Energia Acessível e Limpa (ODS 7); Indústria, Inovação e Infraestrutura (ODS 9); e Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11).

Publicidade

Um outro eixo dessa coalizão é disseminar conteúdos relevantes sobre a questão da habitação de forma sistêmica sob a perspectiva do empreendedorismo e do impacto social. Com um espírito propositivo, conduzimos a Tese de Impacto Social em Habitação, uma análise setorial que está disponível gratuitamente para download.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Com essa iniciativa, queremos provocar um novo olhar para as questões da habitação do País, apontar onde estão os maiores desafios para as pessoas em vulnerabilidade econômica e elencar as oportunidades para criação de soluções inovadoras para essas dores.

Esperamos, também, formar uma rede composta por empreendedores e empreendedoras para que possam se apoiar e se fortalecer. Essa iniciativa inspirou um novo olhar lançado pela própria indústria, não somente para a questão da habitação e do impacto social, mas para toda sociedade. Habitação e setores estruturantes - saúde, alimentação, serviços financeiros, entre outros - são sistêmicos e demandam a ampliação do debate para abarcar um novo jeito de pensar.

No caso da habitação, o jovem arquiteto ou engenheiro civil que vai se formar, por exemplo, tem que saber que quem mais vai precisar do serviço dele, no futuro, são os clientes em situação de vulnerabilidade. O mercado de atuação, no qual vai poder causar maior impacto, não será a alta renda. Ou seja, esse é um novo olhar que merece ser disseminado amplamente.

Voltando a Pierre Lévy - defensor do uso do computador, em especial da internet, para a ampliação e a democratização do conhecimento -, "a inteligência coletiva pode inventar uma democracia em tempo real, uma ética da hospitalidade, uma estética da invenção e uma economia das qualidades humanas."

Publicidade

* Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.