Maure Pessanha
16 de dezembro de 2020 | 15h30
Distante da pretensão de estabelecer regras, gostaria de abrir um diálogo e propor reflexões sobre como poderíamos acelerar o amadurecimento de uma economia de impacto no Brasil. Uma análise preliminar aponta para a demanda urgente de redefinir papéis dos atores sociais, porque a transição requer mudanças significativas na maneira como vários grupos conduzem os próprios negócios e a maneira de viver.
Quando pensamos em governos, por exemplo, será que eles pagariam por resultados sociais medidos e verificados em vez de pagar a prestadores de serviços sem comprovação de impacto positivo e significativo?
O que pretendo com a questão é provocar as partes interessadas a descobrir que uma economia de impacto madura exige que todos abandonem velhas formas de enxergar a própria atuação; que estejam dispostos e disponíveis para reformular os papéis e olhares. Há um consenso, entre os entusiastas da mudança, que o modelo não atingirá a maturidade até que haja um desenvolvimento de políticas, práticas e padrões para governar a dimensão social das atividades econômicas relacionadas com o impacto socioambiental.
Vale refletir que a inexistência de normas que organizam a dimensão social de impacto pode gerar restrições poderosas para a consolidação dessa nova economia. À medida que esses acordos sejam estabelecidos, a hipótese é que haja uma transição para um outro patamar de modelo econômico, com maiores fluxos de capital, talento e conhecimento.
O relatório Catalyzing the growth of the Impact Economy, conduzido pela McKinsey & Company, que inspirou a minha reflexão, aponta três atividades que podem ajudar a estabelecer as normas essenciais ao amadurecimento de uma economia de impacto.
Bairro de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, onde o contraste das desigualdades sociais e econômicas ficam ainda mais visíveis. Foto: Tiago Queiroz/Estadão-14/4/2020
Perante o desafio de combater o avanço da desigualdade econômica no mundo, enxergo a urgência de potencializar o amadurecimento de uma economia de impacto. Mas, em uma análise bastante crítica, entendo que a tarefa demanda uma coalizão entre investidores, empreendedores, governos e organizações sociais; todos precisam, juntos, superar as próprias restrições práticas para estarem preparados a assumir novos e diferentes papéis.
Não há uma bala de prata ou solução mágica para tornar a economia de impacto mais madura, mas existe um passo essencial para que isso aconteça: uma visão compartilhada de que devemos, conjuntamente, lutar contra o avanço da pobreza no mundo.
* Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.