Maure Pessanha
04 de março de 2020 | 17h28
O relatório Women in Business and Management: The Business Case for Change, conduzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) – órgão lidado à Organização das Nações Unidas (ONU) – mostrou que as empresas lideradas por mulheres têm até 20% de resultados melhores do que as demais. Interessante notar que as companhias que investem em equidade de gênero nos postos de trabalho e criam mecanismos para alçar as profissionais a postos de liderança se destacam nos resultados financeiros, registrando crescimento da ordem de 10% a 15% na receita.
Esse levantamento robusto – que contou com 70 mil empresas de 13 países – destacou como atributos os ganhos corporativos não apenas em rentabilidade financeira, mas em produtividade, criatividade, inovação, retenção de talentos e reputação. Uma pena notar que, embora a força de trabalho feminina impacte positivamente o negócio, no âmbito global, apenas um terço dos conselhos de administração possui, pelo menos, 30% de mulheres, ocupando suas cadeiras.
Muito longe de uma postura conformista com o cenário de desigualdade, em todo o mundo, vozes femininas poderosas têm alertado para a importância da equidade de gêneros. Melinda Gates é uma das defensoras dessa causa; ela acredita que a liderança feminina é essencial nos governos, finanças, tecnologia e saúde.
Em negócios de impacto social, gostaria de dividir com leitores e leitoras um exemplo poderoso de uma líder. Alessandra França, diretora-presidente do Banco Pérola, tem mostrado a força feminina e o pioneirismo no universo das fintechs de impacto social. Filha de agricultores paranaenses, ela se tornou uma das empreendedoras sociais mais inspiradoras do Brasil.
Fundada há uma década, a organização voltada à concessão de crédito já destinou R$ 37 milhões para microempreendedores, microempresas e empresas de pequeno porte. O acesso a crédito com qualidade – um dos grandes desafios mapeados pela Tese de Impacto Social em Serviços Financeiros – é o foco de atuação da empreendedora. Um dos diferenciais do negócio é operar, desde 2014, por meio de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, o que garante parceiros investidores e parceiros operadores de crédito.
Alessandra França, fundadora do Banco Pérola. Foto: Arquivo Pessoal
Alessandra trabalha com o chamado microcrédito produtivo orientado, que auxilia o empreendedor a usar da melhor forma possível o dinheiro recebido. Com isso, o Banco Pérola registra taxa de inadimplência média de 2,5%. Com a aprovação de um fundo de investimento na Comissão de Valores Imobiliários (CVM), o banco atua com uma plataforma de microfinanças.
Não à toa cito esse exemplo de liderança feminina na véspera do #8M. Trago, justamente, por ser preciso evidenciar o papel fundamental das mulheres como protagonistas das mudanças sociais que a nossa sociedade demanda.
Alessandra, que começou a sua jornada de empreendedora social inspirada pelo Muhammad Yunus – fundador do Grameen Bank – não se considera uma banqueira. Na prática, acredita ser uma articuladora de ações de transformação social que usa o dinheiro como ferramenta.
* Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
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