Maure Pessanha
11 de agosto de 2021 | 18h30
No início dos anos 2000, nos Estados Unidos, surgiu o conceito de aceleradoras – um modelo para identificar e selecionar startups com alto potencial, oferecendo mentoria e treinamento intensivo de três a seis meses; em alguns casos, envolvendo equity em troca de financiamento-semente. Empreendimentos bem-sucedidos como Airbnb e Dropbox, por exemplo, surgiram desses programas, que instigaram investidores tradicionais de capital de risco a apostar em novas abordagens de estímulo à inovação.
Mais de 15 anos depois, a pergunta sobre a efetividade dessas iniciativas para empreendedores e empreendedoras motivou um estudo consistente e com insumos importantes para alimentar a reflexão sobre o futuro das aceleradoras. A Global Accelerator Learning Initiative (GALI) coletou, ao longo dos últimos cinco anos, dados sobre aceleradoras e empreendedores ao redor do mundo, tendo por foco especial as economias em desenvolvimento.
A análise desses insumos e dessas entrevistas resultou em 30 publicações sobre aceleração e empreendedorismo em estágio inicial. No relatório A aceleração funciona? – lançado no Brasil, recentemente, pela GALI e pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) –, há uma síntese das descobertas mais importantes do campo e um compilado de informações úteis para aceleradoras, empreendedores, financiadores, investidores e outros atores do ecossistema.
Ambiente do Inovabra, ecossistema de inovação do Bradesco, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão – 10/6/2019
Destaco, neste artigo sobre o mapeamento, as principais conclusões que validam uma resposta positiva à importância de processos de aceleração – cujo termo se tornou um guarda-chuva para programas diferentes (duração e perfil, inclusive) que atendem a objetivos distintos de empreendedores.
A primeira é que, em média, os empreendedores que participaram de acelerações aumentaram as suas receitas e o número de funcionários, além de receberem investimento externo com valores maiores. A análise mostra, entretanto, que o impacto do acelerador varia de programa para programa e que nem todos os empreendedores se beneficiam do processo da mesma forma.
Equipes formadas apenas por homens, por exemplo, levantam mais investimentos do que as empresas compostas por mulheres; outra conclusão é que os empreendedores expatriados em economias em desenvolvimento têm maior probabilidade de acessar subsídios financeiros do que os empreendedores locais.
Entre os insights para empreendedores, destaco as cinco principais recomendações contidas no relatório:
Uma mensagem clara trazida pelo mapeamento da GALI é que a base de evidências expandiu, significativamente, a análise sobre a eficácia dos programas de aceleração. Mas ainda existe muito espaço para avaliar um conceito que continua evoluindo.
Por isso, nos próximos anos, a pesquisa continuará a ser feita, dedicando-se a questões como fontes de financiamento, orientação ao impacto social e ambiental, mudança de nível do ecossistema e como os programas de aceleração podem evoluir para melhor servir a empreendedores ignorados e sub-representados. Para o empreendedor, não há dúvida: o programa certo, na hora certa, só contribui para o negócio!
* Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
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