Foto do(a) blog

Fique por dentro do cotidiano da pequena empresa como você nunca viu antes.

Opinião|A nova geração de startups unicórnios de ex-executivos de sucesso com mais de 30 anos

Mesmo trabalhando em um dos melhores fundos de venture capital do mundo, David Vélez largou o emprego para, aos 32 anos, fundar o Nubank

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Por Marcelo Nakagawa *

PUBLICIDADE

Bill Hewlett e David Packard, fundadores da HP, e depois Bill Gates (Microsoft), Steve Jobs (Apple) e Mark Zuckerberg (Facebook) e vários outros contribuíram para a consolidação do mito do jovem, recém-saído da adolescência, que empreende uma startup inovadora e conquista o mundo.

Apesar de positiva, esta imagem representa apenas uma parcela dos empreendedores. William Shockley, ao fundar a Shockley Semiconductors, a primeira startup a trabalhar com silício naquilo que viria a ser chamado de Vale do Silício, tinha 46 anos. Gordon Moore e Robert Noyce tinham 39 e 41 anos, respectivamente, quando co-fundaram a Intel, a startup que, de fato, veio a consolidar o nome desta região.

Agora, a boa nova para os mais experientes é que a nova leva de startups com valuation acima de US$ 1 bilhão (categoria de unicórnios) tem sido fundada, em boa parte, por empreendedores que abandonaram carreiras executivas muito bem-sucedidas em empresas renomadas, que entendem profundamente o mercado em que atuam e passaram pelas melhores faculdades de seus países ou mesmo do mundo. E o que pode animar os tiozões ou tiazonas que sonham em construir o próprio legado é que a idade média dos fundadores de startups de mais rápido crescimento neste momento, segundo uma pesquisa da Harvard University, é 45 anos.

Publicidade

David Vélez, que saiu de um dos melhores fundos de venture capital do mundo para fundar o Nubank aos 32 anos. FOTO: Alex Silva/Estadão-9/3/2016 Foto: Estadão

Outro detalhe desta nova geração é que suas startups são geniais, mas seus fundadores são ilustres desconhecidos. Em vez de ficar dando palestras ou escrevendo textos motivacionais, estes empreendedores com maior rodagem de vida são quase desconhecidos pois tentam equilibrar trabalho, saúde e vida pessoal e familiar.

Todd McKinnon faz questão de incluir que ele "adora se exercitar e ficar com sua família" em seu breve currículo apresentado no site da Okta. Quem é Todd e Okta? Formado em Sistema de Informação e com mestrado em Ciência da Computação, construiu uma carreira vitoriosa na PeopleSoft, saindo depois para a juntar à Salesforce, onde passou a liderar o time de engenharia. Nesta corporação, McKinnon conheceu seu futuro sócio, Frederic Kerrest, que havia se formado em Ciência da Computação em Stanford e com MBA por Harvard.

Ambos estavam muito bem em seus empregos com ótimos desafios profissionais, salários e benefícios. Sendo a Salesforce uma das líderes mundiais em soluções de gestão do relacionamento com clientes (CRM), ambos tinham contatos com os principais diretores de tecnologia do mundo que sempre se queixavam que utilizar as novas soluções em nuvem era incrível e isto estava sendo utilizado em diversas partes de suas companhias, mas nenhuma delas se preocupava com o desafio da área de TI em gerenciar todas estas soluções de forma que fossem centralmente gerida e segura.

Esta foi a tese para que McKinnon e Ferrest largassem seus bem remunerados empregos em 2009 para fundarem a Okta, uma startup que gerencia milhares de soluções cloud, incluindo Office 365, AWS, GSuite, Slack, Salesforce, a partir de um única solução. A tese foi certeira e o valor da empresa se aproxima dos US$ 9 bilhões.

"Mesmo trabalhando em um dos melhores fundos de venture capital do mundo, David Vélez largou o emprego para, aos 32 anos, fundar o Nubank, a principal fintech do Brasil"

Publicidade

John Foley é outro exemplo desta nova geração de tiozões empreendedores. Formado em Engenharia Industrial pela Georgia Tech, MBA por Harvard e ocupando posições de liderança em empresas como Mars, Ticketmaster, até chegar à presidência da Barnes & Noble, quando percebeu que não tinha mais interesse em liderar grandes empresas. Em 2012, aos 47 anos, fundou a Peloton, chamada de Netflix do fitness. Se visitar o site da empresa, ficará surpreso com equipamentos desenvolvidos pela empresa que permitem diversas sessões online de treinamento. Não à toa, o valuation da Peloton chegou a US$ 4 bilhões e a empresa se prepara para abrir seu capital.

PUBLICIDADE

A tendência também é percebida no Brasil. Graduado em engenharia e com MBA, ambos na Stanford University, David Vélez seguiu uma carreira profissional sonhada por muitos, em bancos de investimento como Goldman Sachs, Morgan Stanley e fundos de capital de risco como General Atlantic e Sequoia. Mesmo trabalhando em um dos melhores fundos de venture capital do mundo, largou o emprego para, aos 32 anos, fundar o Nubank, a principal fintech do Brasil e uma das startups mais admiradas do mundo.

Se os mais jovens inovam ao trazerem uma nova visão de mundo, os empreendedores mais experientes contribuem com capacidade de execução. E quando uma grande inovação se integra à execução, sempre um grande negócio se constitui, não importando a idade dos seus empreendedores.

* Marcelo Nakagawa é professor de Inovação e Empreendedorismo do Insper

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.